Toda arte é objeto de convenções e a figura feminina nas artes, em geral, foi e é ainda vista como menos importante no espaço cultural e da literatura. Musa, mãe, esposa sem contacto com o ambiente externo ao lar se viu impossibilitada de ser reconhecida como possuidora de pensamentos que condizem com as proposta socioculturais da sociedade ocidental (parte do mundo que participamos)
No século XX, no Brasil, o leque de escritoras de renome foi ampliado e são destaques as escritoras Clarice Lispector, Cecília Meireles, Gilka Machado, Adélia Prado, Ana Cristina César, Marly de Oliveira, Olga Savary, Lygia Fagundes Telles, Lya Lulf, Marina Colassanti, Hilda Hilst, Nélida Pinõn, Cora Coralina, Stella Leonardo, entre outras. No ES citamos: Maria Stella de Novaes, Maria Antonieta Tatagiba, Haydée Nicolussi, Lidia Besouchet, Ilza Dessaune, Judith Leão, Virgínia Tamanini, entre outras.
No Brasil a marginalidade da escritura literária feita por mulheres imposta por uma sociedade machista não difere muito do que acontece no resto do mundo.
Vejamos: no final do sec. XIX surgem no campo literário os nomes das escritoras como Nísia Floresta (1810-1885), principal símbolo do movimento feminista brasileiro, e Júlia Lopes de Almeida (1862-1934), a primeira mulher a destacar-se na produção literária com contos, romances e teatro, mas não foi admitida na Academia Brasileira de Letras. Acontecimento que só ocorrerá no século XX, em 1977, com a romancista e jornalista Rachel de Queiroz (1910-2003), que deixou uma grande produção de romances, crônicas, textos teatrais e infanto-juvenis. O último romance de Rachel é de 2004, Memorial de Maria Moura. Seu ingresso na ALB foi antes de Marguerite Yorcenar, a primeira mulher a entrar na Academia Francesa, em 1980, fundada em 1635 por Richlieu, Na AF 8 mulheres foram eleitas e, hoje, 5 dela fazem parte. A RAE (Real Academia Espanhola é de 1713, teve em 1784 a admissão como acadêmica honorária a cubana Gertúrdez Gomez de Avellaneda, mas até o princípio do século XX a proibição de aceitar mulheres perdurou. Só em 1978, depois de muitas rejeições de mulheres, 300 anos após a sua fundação, foi admitida Carmen Conde, e, em 2015, Clara Janés. Mas, depois da admissão de Rachel de Queiroz, e no quadro da ABL, já constam 10 escritoras, pois depois dela foram admitidas: Dinah de Silveira de Queiroz (1980), Lygia Fagundes Telles (1985), Nélida Piñon, 1986, Zélia Gattai (2001) e Ana Maria Machado (2003) e Cleonice Seroa da Motta Berendinelli (2010).
Francisco Aurélio Ribeiro em A Mulher na Academia: Histórico e Desafios, faz um estudo da mulher nas Academias de Letras no Brasil e declara que, em1913, fundada a Academia de Letras do Pará, entre os vinte membros fundadores estava a jovem jornalista capixaba Guilhermina Tesch Furtado (ou Guilly F. Bandeira), nascida em Vitória, em 1890 e, também, a pioneira escritora capixaba a editar um livro.
Em 1921 foi fundada a Academia Espírito-santense de Letras, mas não foi cogitado nenhum nome feminino como membro, sequer como patrono. Seus membros eram periodistas, juristas e políticos. Nas primeiras 20 Cadeiras, do início de sua fundação, eram os patronos somente homens. Em 1939, aumentou-se o número para 30. Nas dez Cadeiras acrescentadas nessa época foi designada patrona da Cadeira 32 Maria Antonieta Tatagiba. Em 1981 houve a entrada da primeira mulher Judith Leão Castello Ribeiro, a seguir em 1985, Neida Lúcia de Mores, em 1986 Virgínia Tamanini, em 1990 Ana Bernardes da Silveira Rocha, em 1996/1, Ester Abreu Vieira de Oliveira, em 1996/2 Maria Helena Teixeira de Siqueira; em 1997, Magda Regina Lugon, em 1997, Maria das Graças Neves, em 1999, Maria Beatriz Abaurre, em 2008, Josina (Jô) Drummond; em 2010 Wanda Alchimin e 2016, Bernadette Lyra.
Na primeira metade do século XX, era escasso o destaque das publicações das mulheres e, na década de 40, precisamente em 18 de julho de 1949, começou o movimento oficial para a criação de uma academia feminina, fato que ocorreu em 18 de agosto de 1949. Encabeçavam esse movimento Maria Stella Novaes, Judith Leão Castello, Annete Castro e Arlete Cypreste, com o apoio de alguns acadêmicos da Academia Espírito–santense de Letras.
Criada a AFESL, houve, a princípio, um movimento de expansão e depois um período de inatividade, até que, em 1992, houve um forte impulso, com a presidência de Maria das Graças Neves. Aumentaram-se as Cadeiras, sendo todas ocupadas por mulheres notáveis na política, educação e literatura. Foi criado o signo com a deusa Clio, a deusa da poesia. A alegoria foi pintada por uma artista conhecida pela presidente na época e aprovada pelas acadêmicas. O emblema escolhido foi retirado de um verso da Arte Poética, de Horário: UBI PLURA NITENT (Lá onde brilham muitas estrelas). Hoje a AFESL é composta por membros que ocupam 40 Cadeiras, com mulheres notáveis como patronas, e contém 21 acadêmicas correspondentes.
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