sexta-feira, 21 de setembro de 2018

Maria Helena Teixeira de Siqueira


Maria Helena Teixeira de Siqueira, empresária e escritora, nasceu em Porto Alegre (RS). Era Bacharel em Filosofia, na opção de Letras Neolatinas, pela PUC do RJ, Bacharel em Ciências Jurídicas pela Faculdade de Direito da Ufes, com Especialização em Direito Empresarial também pela Ufes. Foi Professora de Português e Espanhol do Colégio Estadual de Vitória (ES). Foi Professora de Português, Chefe do Departamento de Comunicação e Expressão, Diretora Educacional e Chefe do Departamento de Pedagogia e Apoio Didático da Escola Técnica Federal do Espírito Santo. Foi Diretora Executiva da Fundação Jônice Tristão e Assessora da Presidência da Tristão Administração e Participações S. A. (Vitória , ES). Foi membro da Academia Espírito-santense de Letras, a qual presidiu no biênio 2000-2004. Foi, também, membro da Academia Feminina Espírito-santense de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo, da Associação de Imprensa e da Academia Cachoeirense de Letras (ES). Recebeu título de Cidadã Honorária de Vitória e do Estado do Espírito Santo. Participou em organização de coletâneas literárias e possui várias publicações, no Brasil, de poemas e crônicas, em antologias literárias. Em 2006, lançou Janelas abertas, coletânea de crônicas e apreciações literárias, que, segundo o prefacista, o escritor e acadêmico Aylton Rocha Bermudes, “embelezam e opulentam o panorama literário espírito-santense”. Colaborou em revistas e jornais do Espírito Santo e de Minas Gerais e foi cronista do Caderno Dois de A Gazeta (Vitória, ES). Publicou vários livros de literatura juvenil, entre eles O gato que desejava ser rato, primeiro livro publicado em papel reciclado no Brasil, e Joaninha faceira, edição bilíngue (português e espanhol).Faleceu em 20 de janeiro de 2010.


Sylvia Meirelles da Silva Santos


Sylvia Meirelles da Silva Santos nasceu em 25 de abril de 1889 em Vitória, capital do Estado do Espírito Santo, filha única de Maria Hora de Oliveira e Justiniano Martins de Azambuja Meyrelles. Era chamada, pelos íntimos, de Dona Santinha. Estudou, desde menina, no Colégio Nossa Senhora Auxiliadora (Colégio do Carmo), colégio que, diante das dificuldades dos primeiros tempos, socorreu, com a ajuda dos pais. Nessa instituição educacional, ainda como aluna, elaborou peças curtas de teatro para as comemorações de fim de ano, ou em homenagens a visitantes ilustres. Foi criadora do Hino de Despedida do Colégio do Carmo, em 1911. Colaborou em jornais da época e escreveu regularmente para o jornal O Repórter. Liderou o movimento do voto feminino, no Espírito Santo, na função de Presidente da Federação Espírito-santense pelo Progresso Feminino, em Vitória, nomeada que foi pela líder do feminismo no Brasil, Bertha Lutz. Foi, também, precursora da defesa do direito e do dever do trabalho da mulher. Candidatou-se a deputada estadual, obtendo expressiva votação. Era casada com Aristides da Silva Santos, advogado, jornalista, poeta, membro do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo e um dos fundadores da Faculdade de Direito do Espírito Santo, de quem ficou viúva ainda muito jovem. Trabalhou ativamente para a criação e manutenção, ao lado do marido, da Escola das Crianças Descalças,
que funcionava na Loja Maçônica União e Progresso, na Cidade Alta. Foi professora de francês, poeta, declamadora, ativista cultural e social. Muitas de suas peças foram encenadas por colegas e alunos da Escola Normal Pedro II. Faleceu em Vitória, em 19 de outubro de 1990, aos 101 anos de idade.

Ailsa Alves Santos


Ailsa Alves Santos nasceu no município de Rio Novo do Sul, no Estado do Espírito Santo, em 24 de junho de 1908. Formou-se, em Vitória, como Normalista, no Colégio do Carmo, e lecionou na fazenda Rabelo, em Timbuí, município de Fundão, em Vargem Alta, em Marechal Floriano e em Vitória, onde lecionou primeiro no Barro Vermelho e depois em Jucutuquara, no Grupo Escolar Padre Anchieta, até aposentar-se. Destacou-se, também, no trabalho em prol dos marginalizados pela sociedade e atuou em instituições de caridade. Professora, trovadora e poeta publicou vários de seus poemas em jornais da época. Escreveu textos para teatro infantil e comemorações escolares. Faleceu em Vitória, em 12 de junho de 1970.

Adelina Tecla Correia Lyrio


Adelina Tecla Correia Lyrio (Mululo do marido) nasceu em 1863, no Espírito Santo, filha do Coronel Joaquim Correia Lyrio. Faleceu em 1938. Foi a primeira mulher capixaba a ver publicada, na imprensa local, a sua produção literária. Desejou estudar Medicina, mas foi impedida pelo forte preconceito da época. Na década de 1880, ela marcou presença nos jornais: O Conservador, O eco dos artistas, O pirilampo, Província do Espírito Santo, Jornal Sete de Setembro, A Folha de Vitória e Jornal Oficial. Educadora, desenhista e pianista introduziu, por iniciativa própria, nas Escolas Públicas do Espírito Santo, o teatro infantil como instrumento pedagógico de apoio à integração e à aprendizagem da criança. Sua obra poética, esparsa pelos jornais capixabas das últimas décadas do século XIX, foi reunida por Letícia Nassar Matos Mesquita no livro A produção literária feminina nos jornais capixabas na segunda metade do século XIX - A revelação de Adelina Lírio, onde estão publicados os 13 poemas da poetisa, fruto dessa pesquisa.

Yamara Vellozo Soneghet Melchiors


Yamara Vellozo Soneghet Melchiors nasceu em Vitória, ES, em 1931. Faleceu em Brasília em 1974. Destacou-se como aluna escrevendo no jornal Escelsior, do Colégio do Carmo, onde estudava. Estudou pintura e prosseguiu nos estudos nessa área. Colaborou em A Gazeta e em outros jornais e na revista Vida Capixaba, onde foi responsável pela seção infantil “Tua página”, composta por crônicas, versos e desenhos. Foi premiada em concursos de crônica. Dedicou-se à pesquisa folclórica e publicou, em 1962, em Cadernos de Etnografia e Folclore, editado pela Comissão Espírito-santense do folclore (CESPL), “Aspectos do folclore Vianense”. Integrou-se ao quadro de sócios da Associação Espírito-santense de Imprensa.

Maria Paolielo Cavalcanti


Maria Paolielo Cavalcanti nasceu em 29 de maio de 1901, em Vermelho Negro – Raul Soares (MG) e morreu no Rio de Janeiro em 30 de março de 1976. Funcionária pública, pertenceu ao quadro do Ministério da Educação. Educadora, jornalista, destacou-se na prosa e na poesia. Teve poemas e contos publicados na Revista Fon-fon, na Revista Vida Doméstica e Jornal das Moças. Colaborou no Jornal da AEI (Associação Espírito-santense de Imprensa). Radiofonizou contos e novelas para a Rádio Nacional. Parte de sua obra, em prosa e poesia, foi reunida, em 1980, em uma homenagem póstuma de familiares, em Cisne Triste.

Ida Maria Vervloet


 Ida Maria Vervloet nasceu em 10 e agosto de 1902, em Santa Teresa (ES) e morreu em 4 de maio de 1990, em Vitória (ES). Estudou no Colégio Nossa Senhora das Dores, em Friburgo (RJ). Colaborou nos jornais e revistas como O Cruzeiro, com contos e poemas. Compôs, na juventude, peças teatrais. Ganhou prêmios em Concurso Nacional. Publicou, em 1945, Páginas soltas e em, 1981, O meu Mundo. Deixou inédito um acervo de poemas.

Doralice de Oliveira Neves


Doralice de Oliveira Neves, uma das sócias fundadoras e vice-presidente da AFESL, educadora, conferencista, jornalista, apaixonada pela História, lendas e povos indígenas brasileiros, nasceu em Cambuci, Rio de Janeiro, em 03 de agosto de 1900. Em Vitória, Espírito Santo, estudou na Escola Normal Maria Ortiz e se formou em professora, lecionando nos municípios de Santa Leopoldina, Colatina e Cachoeiro de Itapemirim e sempre contribuindo com seus escritos sobre o Estado. Deixou inédito o livro O Espírito Santo na lenda, história e geografia. No conceito expresso sobre ela, Agostino Lazzaro afirma: “Doralice de Oliveira Neves, mestra e lutadora nos campos de batalha de ensino público, sabia, antes por experiência do que por premonição, que somente o conhecimento adquirido através de uma sólida educação pública seria capaz de transformar uma Nação.”

Orminda Escobar S. Gomes


Orminda Escobar S. Gomes, professora e poeta, nasceu em Viana em 26 de janeiro de 1875 e morreu em Guarapari - ES, em 17 janeiro de 1974. Formou-se no Instituto Normal do Colégio Nossa Senhora da Penha. Pertenceu ao Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo, à Academia Feminina Espírito-santense de Letras, entre outras entidades culturais. O seu livro, constituído de sonetos, Lendas e Milagres do Espírito Santo, ganhou, em 1951, o prêmio Cidade de Vitória. Em 1920, fundou a entidade filantrópica Associação Santo Antônio dos Pobres do Menino Jesus. Organizou e liderou diversas campanhas em favor dos desassistidos. Colaborou nos jornais Comercio do Espírito Santo, (fundado em 1891) A Lira e Gazeta Literária (fundados, respectivamente, em 1897 e 1899). Era conhecida pelo pseudônimo de Alcina Mary. Entre suas obras, estão: Reminiscências (1951), Vultos Capixabas (1951), Episódios Históricos (1952) Vida e Obra de D. Otávio Chagas de Miranda, Bispo de Porto Alegre (1953).

Ypoméia Braga de Oliveira


Ypoméia Braga de Oliveira nasceu em Vista Alegre, no Estado de São Paulo, em 28 de agosto de 1886, filha de Mariana Lydia Ferreira da Silva e Bento Egidio da Silva Braga Júnior. Educadora, atuou também na área social, em várias cidades mineiras e espírito-santenses. Aprofundou seus estudos literários em Juiz de Fora/ MG. Tendo transferido residência para o Rio de Janeiro, colaborou em prosa e verso, em publicações especializadas como Reformador, Aurora e na revista portuguesa Luz e Caridade. Em 1927, mudou-se para Cachoeiro de Itapemirim, onde atuou como diretora do orfanato “Asilo Deus, Cristo e Caridade”. Restabeleceu a revista Alpha, que tinha por linha editorial a literatura educativa e doutrinária, e Folhas de Natal, Folhas Cristãs. Publicou seus trabalhos em vários jornais e revistas do Espírito Santo: A Gazeta, Correio do Sul, Arauto, entre outros. Em 1955, foi designada, na Argentina, Sócia Honorária do Instituto de Cultura Americana. Exerceu o cargo de vice-presidente da Liga Espírito-santense contra o Analfabetismo e da Associação Espírita Beneficente e Instrutiva Jerônimo Ribeiro. É patrona da cadeira nº 08 da Academia Feminina Espírito-santense de Letras. Faleceu em Cachoeiro de Itapemirim em 10 de dezembro de 1958.

Ricardina Stamato da Fonseca e Castro


Ricardina Stamato da Fonseca e Castro, cuja expressão maior foi a música, nasceu em 16 de setembro de 1898, em São Carlos do Pinhal, SP, e morreu em 05 de abril de 1974, em Vitória, ES, onde fundou a Escola de Música do Espírito Santo (EMES), dirigiu a Escola de Música do Espírito Santo e deu aulas em vários colégios: Colégio do Carmo, Colégio americano, e colégio Estadual. Estudou, em São Paulo, no Conservatório Dramático. No Rio de Janeiro, cursou o Instituto Nacional de Música, deu concertos no auditório da Associação dos Empregados e do Comércio do Rio de Janeiro e participou de importantes recepções. Em 1917, recebeu a Medalha de Ouro do Instituto Nacional de Música. Em 1969, recebeu o título de cidadã Espírito-santense, e o Centro Musical Villa-Lobos homenageou-a dando ao auditório o seu nome.

Haydée Nicolussi



Haydée Nicolussi, poetisa, tradutora e contista, nasceu em 14 de dezembro de 1905 e morreu em dezessete de fevereiro de 1970. Natural de Alfredo Chaves, ES, transferiu-se, no início da década de 30, para o Rio de Janeiro, onde se dedicou ao jornalismo e às letras. Foi a primeira escritora capixaba a escrever e publicar poemas em versos livres, sem rimas e sem métrica. Publicou, nos jornais e revistas, poemas, contos, reportagens, crônicas, etc. No Espírito Santo, colaborou nas revistas Vida Capichaba e Canaã e, no Rio de Janeiro e São Paulo, nos jornais Diário de Notícias, O Jornal, A Noite, Diário da Noite, O Estado de São Paulo. Deixou as obras: Festa na Sombra, Canções de Torna Viagem (poesia), Contos Inverossímeis, Três recordações de Infância e Outros Contos, Os Desambientados (romance), Sol de Outras Plagas (poesia de diversos autores).

Zeny Santos


Zeny Santos, uma das fundadoras da Academia Feminina Espírito-santense de Letras e primeira Secretária, nasceu em 10 de outubro de 1930, em Vitória, ES, e morreu em 10 de setembro de 1986, em São Paulo, onde promoveu um intercâmbio cultural entre paulistas e capixabas. Jornalista, poeta e cronista, publicou os livros Cacos e Saveiro da Ilha dos cisnes, coletânea de crônicas que foram, muitas delas, publicadas em jornais, e Cantigas da terra, livro de poemas.

Maria Stella de Novaes



Maria Stella de Novaes nasceu a 18 de agosto de 1894, em Campos dos Goytacazes, no Estado do Rio de Janeiro. Estudou no Colégio Nossa Senhora da Penha, em Cachoeiro de Itapemirim, e no Colégio Nossa Senhora Auxiliadora, em Vitória. Fez cursos de História Natural, no Rio de Janeiro, e complementares de francês, inglês, italiano, pintura e artes aplicadas, piano e violino. Exerceu o magistério na Escola Normal “Pedro II” e no Ginásio do Espírito Santo até 1936, quando se aposentou. Dedicou-se à botânica, principalmente a variedades de orquídeas do Espírito Santo, ilustrando os seus estudos com aquarelas, desenhos e fotografias. Publicou: Saudade! (poesias – 1977), História do Espírito Santo, Jerônimo Monteiro: sua vida e sua obra, - Arquivo Público Estadual (1979), Lendas capixabas (1968) É autora de mais de cinquenta publicações de temas sobre a História do Espírito Santo, sobre biografias de espírito-santenses ilustres e sobre o Folclore. Seu livro Um Bispo Missionário recebeu o prêmio José Veríssimo, da Academia Brasileira de Letras, em 1952. Pertenceu ao Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo e a outras instituições culturais do país e do estrangeiro. Morreu em 1981.

Virgínia Gasparini Tamanini



Virgínia Gasparini Tamanini, pintora, poetisa, romancista e dramaturga capixaba, nasceu em 04 de fevereiro de 1897. Autodidata, dedicou “todos os momentos de lazer ao estudo e à leitura”. Com o pseudônimo de Walkyria, publicou, de 1922 a 1923, o romance Amor sem Mácula, em capítulos semanais, no jornal O Comércio, de Santa Leopoldina. Produziu as seguintes peças teatrais, que foram levadas à cena: Em pleno século vinte, Amor de mãe, Filhos do Brasil, O primeiro amor e Onde está Jacinto? Tomou parte ativa na organização da Primeira Quinzena de Arte Capixaba, em 1947, e adaptou, encenou e dirigiu, no Teatro Carlos Gomes, a peça francesa Cristina da Suécia e, em 1948, a peça Atala, a última druidesa das Gálias. Pertenceu a entidades culturais: Associação Espírito-santense de Imprensa, Academia Literária Feminina do Rio Grande do Sul, Arcádia Espírito-santense, Academia Espírito-santense de Letras, cadeira nº 15, e é Patrona da cadeira nº 3, na Academia Feminina Espírito-santense de Letras. Recebeu o título de cidadã honorária de várias cidades capixabas, é nome de rua em Ibiraçu-ES e foi agraciada com a Ordem do Mérito Marechal José Pessoa, do Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal, no grau de comendador.

Maria Antonieta Tatagiba



Maria Antonieta Tatagiba nasceu em São Pedro do Itabapoana, ES, foi professora, diretora de escola, poetisa, colaboradora de jornais e revistas capixabas e de Campos- RJ, além de assumir a direção de um jornal são-pedrense por quase um ano, do qual o marido era colaborador. Dedicou-se intensamente à produção literária e, com a publicação de Frauta agreste, em 1927, tornou-se a primeira poeta capixaba editada (um ano antes de ser vitimada pela tuberculose).

Judith Leão Castelo Ribeiro (1906- 1982)



Escritora, educadora, conferencista e política, nasceu em 31 de agosto de 1906, na Serra (ES), e morreu em 23 de março de 1982, no Rio de Janeiro (RJ). Estudou no Colégio do Carmo e foi professora por mais de quarenta anos no Colégio São Vicente de Paula e, por dezoito anos, Catedrática da Escola Normal Pedro II, lecionando Psicologia e Didática. Em 1947, ingressou na Política, como Deputada Estadual, exercendo o mandato por dezesseis anos. Colaborou com contos, crônicas, comentários históricos, relatos de vida social e discursos em jornais, revistas e emissoras de rádio do Espírito Santo. Recebeu várias homenagens em vida, como: a Ordem do Mérito Jerônimo Monteiro, no Grau de Comendador, e, após à morte, com nome de Avenida, em Jardim Camburi, entre outras homenagens.. Foi a primeira mulher a entrar na Academia de Letras do Espírito Santo e foi sócia fundadora da Academia Feminina Espírito–santense de Letras. Pertenceu ao Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo e à Associação Espírito-santense de Imprensa. Publicou: A Educação e o Ensino Interessante, Tipografia Gentil Presença e Recompensa.


terça-feira, 18 de setembro de 2018

A mulher escritora e as Academias de Letras (Ester Abreu Vieira de Oliveira)

Toda arte é objeto de convenções e a figura feminina nas artes, em geral, foi e é ainda vista como menos importante no espaço cultural e da literatura. Musa, mãe, esposa sem contacto com o ambiente externo ao lar se viu impossibilitada de ser reconhecida como possuidora de pensamentos que condizem com as proposta socioculturais da sociedade ocidental (parte do mundo que participamos)
No século XX, no Brasil, o leque de escritoras de renome foi ampliado e são destaques as escritoras Clarice Lispector, Cecília Meireles, Gilka Machado, Adélia Prado, Ana Cristina César, Marly de Oliveira, Olga Savary, Lygia Fagundes Telles, Lya Lulf, Marina Colassanti, Hilda Hilst, Nélida Pinõn, Cora Coralina, Stella Leonardo, entre outras. No ES citamos: Maria Stella de Novaes, Maria Antonieta Tatagiba, Haydée Nicolussi, Lidia Besouchet, Ilza Dessaune, Judith Leão, Virgínia Tamanini, entre outras.
No Brasil a marginalidade da escritura literária feita por mulheres imposta por uma sociedade machista não difere muito do que acontece no resto do mundo.
Vejamos: no final do sec. XIX  surgem no campo literário os nomes das escritoras como Nísia Floresta (1810-1885), principal símbolo do movimento feminista brasileiro, e Júlia Lopes de Almeida (1862-1934),  a primeira mulher a destacar-se na produção literária com contos, romances e teatro, mas  não foi admitida na Academia Brasileira de Letras. Acontecimento que só ocorrerá no século XX, em 1977, com a romancista e jornalista Rachel de Queiroz (1910-2003), que deixou uma grande produção de romances, crônicas, textos teatrais e infanto-juvenis. O último romance de Rachel é de 2004, Memorial de Maria Moura. Seu ingresso na ALB foi antes de Marguerite Yorcenar, a primeira mulher a entrar na Academia Francesa, em 1980, fundada em 1635 por Richlieu, Na AF 8 mulheres foram eleitas e, hoje, 5 dela fazem parte. A RAE (Real Academia Espanhola é de 1713, teve em 1784 a admissão como acadêmica honorária a cubana Gertúrdez Gomez de Avellaneda, mas até o princípio do século XX a proibição de aceitar mulheres perdurou. Só em 1978, depois de muitas rejeições de mulheres, 300 anos após a sua fundação, foi admitida Carmen Conde, e, em 2015, Clara Janés. Mas, depois da admissão de Rachel de Queiroz, e no quadro da ABL, já constam 10 escritoras, pois depois dela foram admitidas: Dinah de Silveira de Queiroz (1980), Lygia Fagundes Telles (1985), Nélida Piñon, 1986, Zélia Gattai (2001) e Ana Maria Machado (2003) e Cleonice Seroa da Motta Berendinelli (2010).
Francisco Aurélio Ribeiro em A Mulher na Academia: Histórico e Desafios, faz um estudo da mulher nas Academias de Letras no Brasil e declara que, em1913, fundada a Academia de Letras do Pará, entre os vinte membros fundadores estava a jovem jornalista capixaba Guilhermina Tesch Furtado (ou Guilly F. Bandeira), nascida em Vitória, em 1890 e, também, a pioneira escritora capixaba a editar um livro.
Em 1921 foi fundada a Academia Espírito-santense de Letras, mas não foi cogitado nenhum nome feminino como membro, sequer como patrono. Seus membros eram periodistas, juristas e políticos. Nas primeiras 20 Cadeiras, do início de sua fundação, eram os patronos somente homens. Em 1939, aumentou-se o número para 30. Nas dez Cadeiras acrescentadas nessa época foi designada patrona da Cadeira 32 Maria Antonieta Tatagiba.  Em 1981 houve a entrada da primeira mulher Judith Leão Castello Ribeiro, a seguir em 1985, Neida Lúcia de Mores, em 1986 Virgínia Tamanini, em 1990 Ana Bernardes da Silveira Rocha, em 1996/1, Ester Abreu Vieira de Oliveira, em 1996/2 Maria Helena Teixeira de Siqueira; em 1997, Magda Regina Lugon, em 1997, Maria das Graças Neves, em 1999, Maria Beatriz Abaurre, em 2008, Josina (Jô) Drummond; em 2010 Wanda Alchimin e 2016, Bernadette Lyra.
Na primeira metade do século XX, era escasso o destaque das publicações das mulheres e, na década de 40, precisamente em 18 de julho de 1949, começou o movimento oficial para a criação de uma academia feminina, fato que ocorreu em 18 de agosto de 1949. Encabeçavam esse movimento Maria Stella Novaes, Judith Leão Castello, Annete Castro e Arlete Cypreste, com o apoio de alguns acadêmicos da Academia  Espírito–santense de Letras.
Criada a AFESL, houve, a princípio, um movimento de expansão e depois um período de inatividade, até que, em 1992, houve um forte impulso, com a presidência de Maria das Graças Neves. Aumentaram-se as Cadeiras, sendo todas ocupadas por mulheres notáveis na política, educação e literatura. Foi criado o signo com a deusa Clio, a deusa da poesia. A alegoria foi pintada por uma artista conhecida pela presidente na época e aprovada pelas acadêmicas. O emblema escolhido foi retirado de um verso da Arte Poética, de Horário: UBI PLURA NITENT (Lá onde brilham muitas estrelas). Hoje a AFESL é composta por membros que ocupam 40 Cadeiras, com mulheres notáveis como patronas, e contém 21 acadêmicas correspondentes.

Discurso de Boas Vindas à Prof.ª Dr,ª Ester Abreu, proferido pelo prof.º Dr.º Santinho Ferreira, na Cerimônia de concessão do título de Professora Emérita, pela UFES


Magnífico Reitor e Presidente do Conselho Univeresitário, Professor Dr. REINALDO CENTODUCATTE
Excelentíssima Vice-Reitora, Profª Drª ETHEL LEONOR NOIA MACIEL
Ilustríssima Presidente do Conselho de Curadores, Profª Drª SÔNIA MARIA COSTA BARRETO
Ilustríssimos componentes do Conselho Universitário,  Autoridades acadêmicas, Autoridades administrativas, professores, estudantes, familiares e convidados
Em especial, Ilustríssima Senhora Professora Drª Ester Abreu Vieira de Oliveira.



Divido com os presentes esta nota preliminar: esta história é resultado de escrita em quatro mãos. Meus agradecimentos a Mirtis Caser, a Jorge Nascimento e a Paulo Sodré, que continuam a expressar comigo a expectativa e o agradecimento pela concessão do título de Professor Emérito a Ester Abreu Vieira de Oliveira.
E o que a caracteriza e institui como mulher de destaque é senão agradecimento em cada gesto que acolhe e em cada olhar de oferta, movimentos de determinação e coragem, de entusiasmo e vigor.
Nesse movimento, celebra e agradece, conjugando a decisão do que está expresso como ponto de encontro entre o título honorífico de Professora Emérita e o que se revela de sua história, com começo em Muqui, aos 31 de janeiro de 1933, filha de Ataulfo Vieira de Almeida e Maria da Penha Abreu Vieira.
Graduou-se em Letras Neolatinas em 1960 nesta Universidade e obteve pós-   -doutorado em Filologia Espanhola: Teatro Contemporâneo na UNED – Espanha – em 2003. Professora nesta universidade, com vínculo em 1965, continua a bater com o rigor da forja seu compromisso com a educação, por estar em exercício pleno e voluntário junto ao Programa de Pós-Graduação em Letras, por ser membro da Academia Espírito-Santense de Letras, compor a Academia Feminina Espírito-Santense de Letras, fazer parte do Instituto Geográfico do Espírito Santo, da Associação Brasileira de Hispanista e da Associação Internacional de Hispanista.
Falar com e sobre Ester de Oliveira é pensar em muitos anos de dedicação às hispanidades, à literatura, à educação, é olhar e ver trajetória de capacidade de trabalho e de argúcia intelectual. Essas categorias, no entanto, não excluem a  candura de quem sabe muito e possui generosidade. É também sentir da poesia fina que lhe emana, parte da erudição dissolvida na expressão popular e oferecida em qualquer parte do mundo onde esteja. No curso dessa história, Dom Quixote nos conduz:
Entre os pecados que os homens cometem, ainda que afirmam alguns que o maior de todos é a soberba, sustento eu que é a ingratidão, baseando-me no que se costuma dizer, que de mal agradecidos está o inferno cheio. Sempre procurei evitar esse pecado, tanto quanto me tem sido possível, desde que tive uso de razão, e se não posso pagar as boas obras que me fazem, com outras, ponho em seu lugar o desejo de as fazer; e quando isso não basta, publico-as, porque aquele que publica os favores que recebe, também os recompensaria com outros, se pudesse.
Conviver com Ester de Oliveira nos faz pensar também e especialmente em dois versos do poeta português José Gomes Ferreira: “Porque não nasci no mundo / que trago em mim?”. O poeta pergunta, para responder com a defesa entusiasmada da consagração de uma primavera de justiça entre os homens, de que nós hoje precisamos tanto, vivendo a crescente tormenta da intolerância, do desrespeito e do cinismo.    
Uma possibilidade de resposta de Ester de Oliveira é o que percebemos no que faz: sua atitude terna e sua ação decidida explicam que não nascemos no mundo que trazemos em nós, porque nenhum mundo sozinho é capaz de alguma coisa que valha efetivamente a pena e a vida. Cada ideia, cada projeto, cada realização de Ester de Oliveira requerem que sejamos mais que nós mesmos, que estejamos com outros, para que o mundo revele seu sentido diverso, plural, mutante, e saibamos de todos e percebamos que um parâmetro é muito pouco para a engrenagem maravilhosamente multifacetada do universo. Num calidoscópio em que figuram tantos valores, modelos, crenças, lógicas, num leque de inteligências e afetos em que tantos pensamentos e sentimentos procuram descortinar, prescrever, definir e separar formas diversas de se conhecer e passar pelo mundo, é necessário cuidado para não fazermos de nosso mundo próprio um arrogante e excludente paradigma.
Ester de Oliveira sempre procurou demonstrar que é preciso perceber, como professora e professor de língua e literatura e como cidadão e cidadã de um mundo tão contraditório, que diante das diversas e inumeráveis caligrafias que contornam o entendimento do mundo, não podemos nos escusar de nos orientar e sugerir às pessoas que se sensibilizem com a composição necessariamente plural de uma máquina do mundo ainda longe de ser compreendida e devidamente considerada. Esse é o desenho, e esse é o canto de Ester de Oliveira.
Entre as inúmeras qualidades da homenageada, destaca-se a sua generosidade intelectual. Ester de Oliveira tem sempre uma palavra, um título, uma ideia, um texto para todos os que buscam sua orientação, e, quanto mais divide, tantas e quantas alternativas lhe surgem.
Essa disponibilidade se traduz ainda na sua participação da colega nas diferentes esferas: os eventos acadêmicos, sociais, religiosos e familiares fazem parte de seu cotidiano, o que, associado à sua fantástica memória, faz de Ester de Oliveira uma mulher que está em dia com os acontecimentos. Este momento, portanto, é de celebração, porque prestar esta homenagem a Ester Abreu Vieira de Oliveira é ação singular, e receber o título de Professora Emérita é ato de honraria.
Ao Conselho Universitário e ao Reitor Professor Dr. Reinado Centoducatte nossos cumprimentos.

Aos 12 de setembro de

Santinho Ferreira de Souza
Maria Mirtis Caser
Jorge do Nascimento
Paulo Roberto Sodré





A Acadêmica e Vice-presidente da AFESL, Ester Abreu Vieira de Oliveira, recebe título de Professora Emérita pela Universidade Federal do Espírito Santo



segunda-feira, 10 de setembro de 2018

Saudação aos convidados da Cerimônia de 69 anos da Academia Feminina Espírito-Santense de Letras por Ailse Therezinha Cypreste Romanelli



Exma. Sra Presidente da Academia Feminina Espírito-santense de Letras e demais 
componentes da mesa,
Autoridades presentes,
Senhoras,  Senhores,
Confreiras  e confrades,

É com imenso prazer que recebemos vocês para esta comemoração do sexagésimo nono aniversário da nossa menina. Menina, sim, porque por aí a fora sabemos de várias Academias centenárias. Mas a gente chega lá. Não será apenas uma festa de aniversário. À importância da data cresce de significado porque teremos também a apresentação da Diretoria eleita para o biênio 2018/2020 e a concessão da medalha Cora Coralina, insígnia conferida  àqueles que tenham  contribuído para o desenvolvimento cultural capixaba.
Nossa Academia, por ser uma Academia Feminina, ainda desperta curiosidade. “Por que?”  Nossa história já é bem conhecida, mas não custa contá-la mais uma vez. Estamos aqui por conta de um sonho e muito da  ousadia de uma capixaba, Judith Leão Castelo.
Judith nasceu na Serra, concluiu o curso de magistério tornando-se professora de sucesso. Preocupada com a Educação, sempre escrevia muitos artigos publicados pela imprensa local. Um dia resolveu entrar na política e foi a primeira mulher capixaba a ser eleita para um cargo público, como deputada estadual. Um despautério nos anos quarenta... Cumpriu quatro legislaturas sucessivas. Porém, quando se candidatou a uma cadeira na Academia de Letras, não foi aceita. Simplesmente porque, na época, as Academias ainda eram exclusivamente masculinas. Ah, é assim?!! Pois teremos uma Academia Feminina. E aqui estamos nós.
Mas também já ouvi a observação: “Agora que as mulheres já podem entrar, porque vocês não juntaram as duas associações?”  Vemos então que ainda não somos levadas a sério. Nosso trabalho intelectual parece coisa menor; se juntássemos os dois grupos, “formaríamos um grupo mais forte, com maior visibilidade, talvez.” O interessante é que quem me fez esta observação, quase imediatamente percebeu seu real sentido. E logo corrigiu a fala, dando-me os parabéns pela nossa determinação, persistência e segurança na defesa de nossos ideais. 
Meu interlocutor insiste:  “Mas o que é que vocês fazem numa Academia de Letras além de tomar chá com rosquinhas?”
 Em primeiro lugar rosquinhas não são, propriamente, uma tradição nossa. Na realidade as academias, enquanto centros de estudo, surgiram com os gregos. Sócrates reunia-se na entrada de um ginásio e ali debatia questões filosóficas como o bem, a virtude, ou a origem do conhecimento. Eram grupos masculinos, porque mulheres não frequentavam os ginásios. Como não estava ligado aos deuses, Sócrates foi acusado de heresia e condenado à morte. Platão, seu discípulo, para não ter a mesma sorte do mestre, sabiamente, fazia suas reuniões nos jardins de Academus, antigo herói grego. No local, em meio às oliveiras sagradas, havia um templo dedicado à Atena estando todos, portanto, ao abrigo e sob a proteção dos deuses. Daí a palavra Academia para designar grupos de estudo, de debates, de pesquisa, de Ciências, de Letras ou Artes, dos quais mulheres nunca participavam; além de outros preconceitos, acreditava-se  que mulheres não tinham capacidade de pensar.
 Lá pelo séc. XVII quando o espírito científico começou sua escalada, os avanços eram extremamente lentos; os interessados em debater a Ciência, as Letras ou as Artes  não tinham como saber se havia outras pessoas pesquisando na mesma área ou em áreas relacionadas, e antes que soubessem, muito tempo já havia se passado, muita informação já havia sido perdida. A organização em sociedades científicas ou academias de ciência deu impulso à pesquisa, facilitou as  descobertas levou às invenções.  
Esse interesse pela Ciência acabou impregnando a literatura, levando para a poesia e a prosa  preocupações  típicas do cientista, o rigor, a busca da ordem, da precisão, da clareza, da correção na linguagem. A Sociedade Real de Londres, respeitável senhora  nos seus quatrocentos ano exigia de seus membros ”modo de falar estrito, simples e natural, (... ) emprestando a todas as matérias a mesma clareza da Matemática”. Tal cuidado com a precisão e correção da linguagem  permanece, ainda hoje,  como um dos requisitos das Academias em geral. Assim, o exame do currículo de qualquer  aspirante a  imortal  utiliza esse crivo.
Por que estou me reportando às origens? Principalmente, para mostrar que a atividade intelectual, durante muitos e muitos  e muitos anos, foi uma atividade exclusivamente masculina. Até Jesus, coitado, foi acusado de desobediência grave pelos sacerdotes do Templo, porque aceitou que mulheres fizessem parte de seu grupo.
 Aqui no Brasil, quando os índios manifestaram o desejo de que suas mulheres frequentassem a escola, o Padre Nóbrega pediu permissão à Corte causando grande rebuliço e escândalo dada a “petulância das bugras”. Até há pouco, nos tempos do Império, era proibido às escolas matricular mulheres e escravos. Fundar uma Academia Feminina, em 1949, não deixa de ser um acontecimento. Na sua época,  foi. Fazer literatura é um exercício de sensibilidade. Cada um de nós carrega consigo um mundo de experiências, suas conquistas, alegrias e dores, passado e presente, um olhar pessoal sobre a vida, acervo precioso a ser compartilhado. Mas também fazemos Ciência. Temos historiadoras, ambientalistas e artistas. Além do chá, que não é com rosquinhas, reunimos ideias e ideais, escrevemos, discutimos, publicamos; realizamos oficinas, recebemos palestrantes; temos muito trabalho administrativo, registrando e documentando nossas atividades. Não renunciamos aos nossos sonhos; seguimos repartindo sentimentos, conhecimento e emoções. Até nos atrevemos a outras incursões, como a Feira Literária que já está indo para a uma nova edição. Só não conseguimos ainda ter uma sede.  

Continuamos na estrada, com muita determinação e entusiasmo. Estejam conosco; sejam bem vindos. Vamos comemorar.      

Vitória, 30 de agosto de 2018
Ailse Therezinha Cypreste Romanelli 



Imagens dos 69 anos da AFESL